No dia 18 de Novembro de 1948, deu-se um caso pitoresco que, pelas circunstâncias pouco vulgares de que se revestiu, não posso deixar de incluir nestas Lendas e Narrativas. A Sr.ª Laura da Conceição "Barria", já falecida há muitos anos e mãe do Sr. Silva da Pensão e da D. Emília Pinto, com estabelecimento de vinhos nesta vila, comprara meia pipa de vinho ao Sr. António Teixeira Bessa, do lugar de Campelo em Vila Cova da Lixa.·
A referida taberneira que gozou sempre de fama possuir os melhores vinhos da região, encarregou um seu jornaleiro e dois vizinhos, um deles familiar seu - o tio Quim -, de ir buscar o citado vinho a casa do Sr. Bessa.
Após "provas e atestos", formalidades da praxe, procedeu-se ao carregamento da meia pipa, e ainda, de dois sacos de castanhas. No fim do serviço o Sr. Bessa que não era velhaco não hesitou em dar mais um bocadinho de "atesto", tirando mais algumas canecas do apreciado verdasco, satisfazendo assim os desejos dos quatro circunstantes. Todo isto, levou o seu tempo, quando partiram já era noite. O jornaleiro a conduzir os bois e o tio Quim à frente alumiava o condutor com um gasómetro. Todavia, percorridos uns escassos quinhentos metros cai um saco de castanhas; um pouco mais adiante cai o outro, e mais acima sai a chavelha ao carro, ficando este para trás, enquanto os bois e o seu condutor, sem se terem apercebido do que se passara, continuavam o seu caminho até à casa da compradora do vinho. O mesmo sucedeu aos outros dois que vinham atrás, pois embora tivessem tropeçado nos sacos das castanhas e de terem passado junto ao carro, continuaram alegremente o seu caminho. Ao chegarem a casa da Sr.ª Laurinha foi o espanto! - É que além de faltar o vinho e as castanhas, também não havia carro!·
Foi então que um dos membros da comitiva disse:
- Foram as bruxas que ficaram com as coisas!·
Mas, na dúvida, sempre voltaram atrás e lá encontraram a mercadoria e o "veículo", que levaram para a casa da compradora.·
O que se passou para descarregar a meia pipa e a meter dentro da loja da comerciante, não merece a pena descreve-lo, pois, facilmente se calcula.·
Numa das últimas noites de Outono de 1975, um grupo composto pelos Srs. Sousa, Teixeira, Babo, Teles, Jorge, Martins, Nelo e Monteirinho viram um clarão ali para os lados de Todeia. Julgando tratar-se de uma "queima" das que todos os dias martirizam os nossos montes e florestas, para lá seguiram pressurosos, em dois automóveis na disposição de colaborarem no ataque ao fogo.·
Chegados àquela freguesia, viram o clarão mais além e com mais intensidade.·
Então os nossos "astronautas" não desistiram e só quando chegaram a Celorico de Basto é que repararam que esse clarão era da Lua.·
Como para lá "chegarem" lhes demorou muito tempo, resolveram voltar para trás, não sem beberem no "Maria Alice" ou no "Brás" uns copitos, para esquecerem a triste figura que fizeram...
Carlos Coelho
(Fonte "Revista das Vitórias 2000")