António Nobre

 

Nasce a 16 de Agosto de 1867 no Porto. Seu pai era natural de Borba de Godim (Lixa), tendo aí vivido durante sete anos; passa grande parte da sua infância em Leça da Palmeira e na Lixa.

Em 1882 conjuntamente com Eduardo Coimbra escreve a poesia "Tremulante". Em 1883, no Porto, em conjunto com alguns amigos, funda a publicação "A Mocidade de Hoje".

A 1888, com 21 anos, matricula-se em Direito na Universidade de Coimbra; no ano de 1889, ajuda a criar a revista "Boémia Nova". Ainda em 1889 reprova no primeiro ano de Direito. Reprova o segundo ano de Direito e abandona Portugal. Vai para França onde em Paris, tem contactos com Eça de Queirós (Cônsul de Portugal em Paris).

Já em 1891, em Paris, compõe grande parte dos poemas de "Só". Um ano depois, "Só" é publicado em França, recebendo muitas críticas negativas em Portugal.

Em 1893 regressa a Portugal. Aparecem-lhe os primeiros sintomas de tuberculose. Em dificuldades financeiras, o poeta regressa a Paris.

António Nobre insere-se num estética decadentista / simbolista, renovando o romantismo de Garrett e anunciando o modernismo.

A 1895 termina a licenciatura em Ciências Jurídicas (Escola Livre de Ciências Politicas). Regressa a Portugal e a sua doença agrava-se. Entre 1896 e 1900 tenta a cura, quer em Portugal quer no estrangeiro mas, sem êxito. No dia 18 de Março de 1900, na Foz do Douro, morre o Poeta António Nobre.

Depois da sua morte foram publicados mais dois volumes de versos: "Despedidas" (1902) e "Primeiros Versos" (1921).

Na Cidade da Lixa existe uma rua com o nome de António Nobre, poeta actualmente, considerado o primeiro da modernidade.

"Pode-se, portanto asseverar com rigor que a viagem do poeta e do seu pai, descrita, narrada no poema "Viagens na Minha Terra", tinha como destino Borba de Godim, na Lixa (...) Onde, de resto, os pais do poeta viveram após o casamento e até ao nascimento do terceiro filho. (...) São duas, pois, as referências no poema "Viagens na Minha Terra" que nos permitem acreditar com certeza de que o destino da viagem era Borba de Godim, na Lixa, e não o Seixo, em S. Mamede de Recezinhos (...)

Alfredo oliveira de Sousa, In ANTO - Revista Semestral de Cultura n.º 7 ano 2000

"Ele foi o primeiro a pôr em europeu este sentimento português das almas e das coisas, que tem pena de que umas não sejam corpos, para lhes poder fazer festas, e de que outras não sejam gente, para poder falar com elas".

Fernando Pessoa

"Se há nome que fique bem a alguém é o de António Nobre. António porque é escolha dum santo que nos deixou recados de sabedoria, dessa que o orgulho se desprende para dar lugar à caridade. E Nobre porque não há melhor fidalguia do que a dum poeta."

 

Agustina Bessa Luís (Porto, 20-05-2000)

 

 

«Óh Feira das Uvas em tardes de calma

E o tempo voou...

Pediam os pobres esmola

Pela alma que Deus lhes levou.»

Havia-os com gota e os herpéticos

Mostrando gangrena

E mais, e ceguinhos, mas era dos hepáticos

Que eu tinha mais pena

O sino da Igreja tocava à tardinha

Que tristes os seus dobres!

Era à hora em que eu ia

rovar à cozinha o caldo dos pobres.

O Conde da Lixa

Sabia o Horácio, Tim Tim por Tim Tim

E dava-me à noite, passeando

Lições de Latim.»

Memória

Ora isto, Senhores, deu-se em Trás-os-Montes, Em terras de Borba, com torres e pontes. Português antigo, do tempo da guerra, Levou-o o Destino pra longe da terra. Passaram os anos, a Borba voltou, Que linda menina que, um dia, encontrou! (...)

Calçou as sandálias, toucou-se de flores, Vestiu-se de Nossa Senhora das Dores: "Vou ali adiante, à Cova, em berlinda, António, e já volto..." E não voltou ainda!

 

António Nobre Extractos de "Só"

 

( Fonte : Revista das Vitórias 2009 )